quarta-feira, 12 de outubro de 2011

É ele! É ele! É ele! É ele!

É ele! É ele! - murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou - é ele!
Eu o vi - meu príncipe azul e puro -
O meu labrador na janela!


Desses campos-furtados onde eu moro
Eu o vejo limpando o telhado
As calhas largas, as telinhas coloniais;
Eu o vejo e suspiro enamorada!


Esta noite eu ousei mais atrevida
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
Vê-lo mais belo de Morfeu nos braços!


Como dormia! que profundo sono!...
Tinha na mão um lenço enrolado...
Como roncava mavioso e puro!...
Quase caí na rua desmaiada!


Afastei a janela, entrei medrosa:
Palpitava-lhe o peito adormecido...
Fui beijá-lo... roubei de seu cós
Um bilhete que estava ali metido...


Oh! decerto... (pensei) é doce página
Onde a alma derramou gentis amores;
São versos dele... que amanhã decerto
Ele me enviará cheios de flores...


Tremi de febre! Venturosa folha!
Que pousasse contigo neste cós!
Como Otelo beijando a sua esposa,
Eu beijei-a a tremer de devaneio...


É ele! é ele! - repeti tremendo;
Mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri ciosa a página secreta...
Oh! meu Deus! era uma lista de calha suja!


Mas se Werther morreu por ver Carlota
Dando pão com manteiga às criancinhas,
Se achou-a assim mais bela - eu mais te adoro
Sonhando-te a limpar as telhinhas!


É ele! é ele! meu amor, minh'alma,
O Lauro, o Benjamim que o céu revela...
É ele! é ele! - murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou - é ele!


Inspirado no poema É ela! É ela! É ela! É ela! de Álvares de Azevedo, presente no livro Lira Dos Vinte Anos.


Versão mais que especial em homenagem ao Sol da Minha Vida, mais conhecido como #Tico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário